O Cravo Não Brigou Com a Rosa ( O politicamente correto)

25 outubro 2011


    Chegamos ao limite da insanidade da onda dopoliticamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
     Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
    É Villa Lobos, cacete! Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar. Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nina do Jardim Escola Criança Feliz.
    Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
    Dia desses alguém foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho. Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressãocoisa de viado? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
    Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil – “de deficiente vertical” . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um “cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente”. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um “padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade”. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O barrigudo é uma “pessoa com síndrome de perímetro abdominal”. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
    Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil. O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar naquele lugar, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach. Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".
    Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto. 
     (Texto de Luiz Antônio Simas, Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio). Retirado do blog :
http://tempestadesilenciosa.blogspot.com/2011_07_01_archive.html

Papos com as mães II

21 outubro 2011
-Quando é a reunião de pais na sua escola filho?
- Não sei mãe, ainda não recebi o convite avisando.
-Mas já está na época, procure saber viu? Aliás, como estão suas notas?
- Estão boas.
- Boas como?
- Boas ora, não lembro direito, são tantas disciplinas, trabalhos, textos que nem sei como é que eles calculam isso.
- Hum, sei... Qualquer dia apareço la na escola de surpresa, ta ouvindo?
- Tou, mas você numa tá avisando que vai? Então não é surpresa. Já sei, quer que eu me prepare né? Pra que você faça surpresa e fique tudo bem...
- Menino sabido!
- Tá certo, pode deixar, mas vou logo avisando que fiquei em recuperação em matemática.
- O quê?????
....................

De afrodisíacos



 Adélia Prado

Tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo. É porque lá em casa a gente não podia falar nem diabo, que levava sabão, quanto mais... ah, no fim eu falo. Coisa do Teodoro, ele quem me contou, você sabe, marido depois de um certo tempo de casamento fala certas coisas com a mulher. O seu não fala? Pois é, e de novo tem um tempão que aconteceu. Lembra aquela história dos queijos? Igual. Demorou um par de anos pra me contar. O pessoal dele é assim, sem pressa. Tem uma história deles lá, que o pai dele, meu sogro, esperou 52 anos pra relatar. Diz ele que esperou os protagonistas morrerem. Tem condição? Mas o Teodoro — foi quando a gente mudou pra casa nova — teve de ir nas Goiabeiras tratar um marceneiro e passou, pra aproveitar, na casa da tia dele, a Carlina do Afonso, e encontrou lá o Gomide. Tou encompridando, acho que é só por medo do fim, mas agora já comecei, então. Então, diz o Teodoro, que o Gomide tirou do bolso do paletó uma trouxinha de palha de milho, cortadas elas todas iguaizinhas e amarradas com uma embirinha da mesma palha.

Comentários sobre a abertura do Concurso do Estado do RN

18 outubro 2011
Nesta semana o edital do concurso público para o Magistério no RN foi publicado. Ao todo são 3.500 vagas divididas entre 600 para suporte pedagógico e 2.900 para disciplinas específicas. Conforme a Secretária de Estado da Educação "Com a realização do concurso, o Governo está atendendo a uma antiga reivindicação da categoria e agindo para cobrir o déficit de professores em sala de aula nas escolas estaduais. Estamos também, com isso, dando mais qualidade ao ensino em nossas escolas".

  1. Particularmente, pegando as palavras da secretária, não acredito que um concurso vá trazer "qualidade " ao ensino em nossas escolas. Não apenas um concurso, sabe? A formação dos profissionais é um grande ponto a se pensar e embora seja até senso comum o que estou dizendo os governos fazem ouvido de mercador em relação aos problemas da sociedade e principalmente tratando-se de reivindicações das classes educacionais.
  2. "O governo está atendendo a uma antiga reivindicação da categoria", essa frase demonstra total apoio às ações do governo, visto que o governo "atende" às reivindicações. Coloca o governo como agente, bem-feitor e compadecido da categoria o que foge à verdade, pois não há como as escolas funcionarem sem profissionais  e eu conheço vários deles que se aposentaram, que saíram por que foram chamados para outros concursos e até gente que morreu. Então, isso é uma reivindicação atendida?

O que não entendo é o por que de os discursos políticos continuarem recheados de subentendidos e com uma ideologia de camaradagem. O que eles tentam mostrar é que estão sendo bons, que estão sendo ótimos e que estão nos fazendo  um favor, quando na verdade estão fazendo algo muito aquém de suas obrigações.

Esse concurso não dá nem para o começo, imagine atender às necessidades reais da educação do nosso estado. Haja paciência para tanta abobrinha!

Dia do professor

Em homenagem a esse profissional valoroso fiz esse texto para o blog de Azevedo http://noticiaspoliciais2009.blogspot.com/2011/10/dia-do-professor.html





Neste dia do professor, munida de algumas leituras poéticas e líricas, atrevo-me a falar dos mestres. Mestres esses que em seu tão negligenciado percurso trabalham com afinco para que seu dever seja cumprido, apesar de. Ser professor é trabalhar com a hipótese de colocar um saco vazio de pé, apesar de. É ensinar o que é uma jabuticaba a uma criança que não come muitas frutas por causa da falta de recursos, é falar de países e continentes diferentes a alguém que foi no máximo a 10 km de distância da própria casa, é o artista do impossível.


Mas não falo do professor, que como a carga semântica sugere é aquele se detém a passar conhecimentos científicos, apenas, meu interesse é pelo educador; aquele que como diz Rubem Alves tem a função de mostrar a vida àquele que ainda não viu. O educador tem compromisso com a verdade, com a vida, com o amor. Não se deve ensinar aos nossos alunos o que é uma árvore e quais são suas partes apenas, é preciso ensiná-los a amá-las e a protegê-las pois assim não faltarão cores na nossa vida.


Como artista do impossível o educador vê o que ninguém vê e projeta o que ninguém sonha, ele  é capaz de expandir os horizontes de alguém, é como se nos déssemos novos óculos.

            
É em homenagem a esse artista do impossível que escrevo esse texto hoje, desejando que a tarefa de educar nunca termine e que sua caminhada seja mais leve, branda e recompensada.

Feliz dia do professor.






Sobre crianças e infância

12 outubro 2011
Lá na cidade de Patu, onde passei boa parte da minha infância tive alguns de meus melhores momentos. Vivíamos numa casinha de tijolos, apenas o início da casa, a sala nem grande nem pequena porém vazia de móveis, um quarto com a janela para a rua, uma outra sala de tijolos e mais pra trás o quarto e uma cozinha feitos de pau-a-pique ou como conhecemos aqui, de taipa. 

Na cozinha um fogão a lenha feito de tijolos e era onde eu sempre colocava o fio do meio da palha de coco pra queimar e minha vó que foi mais mãe do que avó, brigava por que dizia que "desgraçava a cozinha de fumaça" e eu saía dali sonsa. No mesmo lado que o fogão estava havia uma janela que dava pra um beco que havia de lado da casa. Ali existiam algumas plantas de pequeno porte que mãe (avó) sempre aguava por que ela sempre gostou de rosas. Acho que ela gostava muito de mim também pois quando eu acordava e saia num pulo só já para o quintal pra se achava alguém ela sempre me dizia "acordou, minha rosa?" e eu, como toda criança que é amada, fazia aquela cara de sono e de manha e ia para os braços dela. 

O meu caminho

11 outubro 2011

A pedra arranha os meus chinelos
de dedo que forram os meus passos
que levam todo o comboio
de um conjunto de partes descansadas

levadas de uma forma inerte
a um destino desconhecido
vagueiam no vazio infindo
a achar que estão indo certo

Perguntam-me para onde seguem
as partes imóveis do pesado corpo
respondo que eu desconheço
apenas sigo o triste comboio

que segue à luz das estrelas
nas noites em que elas despontam
com  elas inventam um mapa
sem elas andam pelas sombras

Por que as estrelas? Alguém me pergunta.
Por que são românticas, assim respondo
são almas que ascenderam
são guias que direcionam

são cálidas, singelas e firmes
são altas, altivas e fortes
são livres como perdizes
seguem a sua própria rota

Quem dera eu assim seguindo
as estrelas por onde andam
eu fosse pelo mesmo rumo
pudessem navegar o mundo

andasse um roteiro vasto
pudesse escolher os dias
em que eu aparecesse ou
se apareceria

mas ando por entre ruínas
vales e montanhas sujos
sob as estrelas que não iluminam
a terra cheia de escombros.



Língua ou gramática, eis a questão
Sírio Possenti
De Campinas (SP)
Uma passagem de uma coluna do professor Pasquale (Folha de S.Paulo, 08/01/2009, p. C2) fornece o pretexto para explicitar aspectos de uma questão que quase sempre são inadequadamente misturados. Começa citando um poema de Bandeira, que foi musicado por Dorival Caymmi e do qual se tratou em prova da Fuvest: “O rei atirou / sua filha ao mar / e disse às sereias: / - Ide-a lá buscar”.
A propósito das questões formuladas (uma perguntava pelo efeito expressivo de “ide” e outra mandava substituir a segunda pessoa do plural pela terceira), mas depois da segunda, que talvez até seja mais fácil que a primeira, faz o seguinte comentário: “Agora o bicho pega de vez, ao menos para quem teve o azar de estudar com “professores” que julgam que nas aulas de português só se deve falar da língua viva, da língua de hoje”.
10 outubro 2011

Eram tuas

07 outubro 2011
Eram tuas as mãos que eu sentia em meu ombro
nas noites de pouca luminosidade
enebriadas pela penumbra
me envolviam

Eram pesadas, as mãos que pousava na minha face
traziam as marcas de muita labuta
tocavam o rosto como quem ama
trazia nelas um mapa

Eram enormes, as mãos que tocavam meus lábios
numa etérea insana viagem
de quem foi pra muito longe
mãos de quem sente saudade

Eram tuas, as mãos que seguraram as minhas
prendendo como quem tem medo
de quem não tem mistério
de quem quer levá-las pelas longas estradas.















04 outubro 2011

Para as mães extremosas…


Eu tenho planos definidos sobre as coisas que quero deixar escritas, como se fossem um testamento, as tais “últimas palavras”. Quero terminar um livro que comecei faz cinco anos, com os essenciais da minha filosofia da educação; quero terminar um outro, sobre a estética do envelhecer; quero também escrever um outro, contando aos meus colegas de profissão, terapeutas, aquilo que julgo ter aprendido. Infelizmente, entretanto, a vida está cheia de acidentes que me desviam do meu alvo. Aconteceu comigo essa semana: já tinha esboçado a minha próxima crônica, que seria sobre a escola dos meus sonhos. Mas aí, numa curva do caminho, um demônio se apossou de mim, baralhou meus pensamentos pedagógicos e me ordenou que escrevesse uma coisa horrível que não estava nos meus planos. Refuguei, disse que aquilo eu não escreveria, sabia que seria odiado por quem me lesse, mas não houve jeito. Quanto mais eu resistia mais ele me apertava o gogó. “Se você não fizer o que estou mandando eu não deixarei que você escreva o que você deseja escrever…” Assim, vou escrever o que ele me ordenou escrever, não sem antes pedir perdão aos meus leitores – esperando que eles entendam que não sou eu quem está escrevendo. Estou possuído e só vou escrever o que ele ditar.

Sobre a morte e o morrer

01 outubro 2011


Rubem Alves


O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”