Divagações infindáveis

23 agosto 2011



Alguns momentos, não raros, em casa, nas nossas reflexões diárias sentimos uma saudade angustiante, que chega a machucar. Costumo a achar que é a falta de alguns momentos amor que nos derrete todos, talvez da adolescência para aqueles que já passaram dela, do “adolescer” em si. Queremos voltar um pouco, sentir a mesma sensação de alguns anos atrás apenas por segundos, vestir o mesmo Jeans 38 que não cabe mais, a mesma blusa justa, o mesmo tênis de futsal, balançar as longas madeixas que chegam a alcançar a cintura. Ter a mesma falta de preocupação daquela época, ter os mesmos momentos especiais juntos das pessoas com que passamos os maravilhosos anos      .
É difícil acreditar que somos adultos, que temos responsabilidades a cumprir, e não queremos nos frustrar se não conseguirmos a uma certa altura da vida um emprego decente. Queremos a nossa liberdade de volta, os tempos de amor intenso, o olhar singelo das pessoas. A simplicidade de ficarmos uma hora ou mais sentados na calçada conversando bobagens sem ter compromisso com a seriedade, com a imagem, com o autoretrato. Pergunto-me às vezes quem nos obriga a mudarmos. Quem? Quem infiltra em nossas cabeças que precisamos crescer? Que precisamos ser sensatos, que temos explicações a dar? É alguém invisível. Eu sinceramente não sei.
Por vezes não me reconheço de tanto que mudei. Os meus pensamentos sobre as outras pessoas, as exigências de uma vida burramente homogênea em alta escala. É ridículo o fato de todos usarem o mesmo colar de ouro, os mesmos anéis, as mesmas roupas, a maquiagem é idêntica. Afinal, desde que inventaram moda desinventaram o estilo. E a moda está na moda. Consome toda a criatividade das pessoas. E nisso de crescer, de estar num lugar social faz com que você nem perceba as amarras e de repente se percebe que não se pode usar aquela roupa pra ir a tal lugar por que todos ignorarão. E mais que de repente se arrumar torna-se um ato público e não uma satisfação pessoal.
Toda a nossa sede de justiça, resposta rápidas, soluções vai ficando menor. E já não somos jovens. Não somos mais. A vida cuida de amolecer as pedras dos nossos desejos e a água do tempo vai quebrando nossas resistências.
Com o tempo, vem a resiliência. As aventuras da vida nos ensinam que ser inflexível é pior, é mais fácil quebrar um objeto teso a um maleável. Existe a certeza de que tudo se transforma. Os físicos estavam certos, assim como Cazuza: o tempo não pára e leva com ele os nossos melhores momentos. Aqueles em que rimos com um amigo na calçada, falando besteira ou rindo de alguém que passa do outro lado da rua. Aquelas intrigas da adolescência, quando sabemos que as menininhas da outra turma deram em cima do nosso paquera. As notas baixas que tanto preocupam nossos pais e que para nós às vezes é vantagem contar como recuperamos.
Tempos bons os que deixam lembranças encantadoras. As aventuras às quais nos submetemos para ter o que contar, ou não... Nem sempre essas aventuras podem fazer parte do livro aberto, apenas de nossos pensamentos, de nossos segredos. É bom ter segredos, alimenta o mistério existente na alma e nos torna mais fortes.
Esses sentimentos que não conseguimos definir ao certo fazem parte da natureza humana de sempre desejar o que não se pode ter. Lembramos do passado querendo revivê-lo, pensamos no futuro querendo que chegue rápido, e a vida é o que se passa entre o passado e o futuro. Pensamos demais nos tempos ausentes. Sim, ausentes por que não estão cá, agora, nessa hora. 

Poema

15 agosto 2011

O poeta mastiga o lápis em busca de uma ideia viva,
mas seu poema não sai.
Sua cabeça gira, seu corpo vagueia, parece que sai de si
num flutuar de imaginações mas nada vai para o papel.
O poema que ele queria deveria ser romântico, falar de amor
de uma nova forma, inusitadamente.
Não sai nada.
Nem um rascunho mal feito com letras tortas e ilegíveis.
A sua principal ideia está ali, pronta para ser moldada
como uma panelinha de barro,
entretanto a voz da alma cala
e o poeta procura viver novamente
já que seu principal poema
não quis sair.

Teimosia


Ponho-me a escrever seu nome na areia da praia deserta e quando findo
a onda vem com seus modos peraltas e apaga uma letra, faço-a 
novamente e a onda retorna a apagar, refaço mais uma vez e a sua teimosia me vence,
deixo apenas marcas do seu nome na fina areia.

É como se me dissessem que não podes estar ao meu lado,
que seu nome é um corpo estranho ao meu alfabeto,
a onda me traz um recado dos céus,
que nesse deserto de areia não se pode nem sonhar.

01/09/2001

Fui

14 agosto 2011
Andei pelas selvas
sonhei com amores
cantei meus temores
deitei-me nas relvas

amei passarinhos,
plantei muitas flores
curei muitas dores
passei meu carinho

fui homem, mulher
moleca, menino
fui sonho morfino
que ninguém quer

fui tudo e nada
a luz do caminho
a pedra, o destino
só não fui amada.

A vida

A vida é um corredor comprido
com as coisas espalhadas pela chão.
Às vezes é um saco, chega a ser um papelão.
Não é mais que uma bagunça impossível de arrumar
é um papel pintado com cores para sonhar.
A vida é uma busca num túnel, sempre em busca de uma luz
uma tragédia romântica que por vezes nos seduz.

Não quero passar direto pelo imenso corredor,
sem pegar algumas coisas, uns pinguinhos de amor
alguma folhas fininhas que são feitas de humildade,
uns grãozinhos de bondade e outros de felicidade
Umas pedrinhas de calma sei que um dia servirão
umas gotas de amizade, de amor e compaixão,
sei que de sentimentos bons sempre eu precisarei
e se houver outra vida, essas coisas levarei.

Semelhança

Olho os nossos poemas
que escrevemos reciprocamente
como eles são parecidos
amargos, tristes, carentes

em verdade eles falam
tudo que sentimos ou sonhamos
falam das nossas alegrias
dores, desejos, enganos

olho você e me vejo
ouço você e me sinto
sinto você e precebo
que o amo e que não minto

Assim somos tu e eu
parecidos, somos um
às vezes somos distintos
as vezez somos nenhum.

Desejo impossível

Curvarei-me a teus pés
jogarei em tuas mãos
o destino de minha vida
o segredo do meu coração

que por ti sofre agora
por um dia desprezar-me
e taciturno implora
uma chance para amar-te

amar-te, somente amar-te
é meu desejo constante
uma utopia incerta
um sonho muito distante

distante da real vida
que vivo sem ter prazer
por causa de um erro antigo
não queres mais me querer.

01/08/2001

Sobre a decepção

04 agosto 2011
É triste escutar uma canção triste e sentir o que ela passa.
Saber da dor dos outros como se fosse nossa, sentir algo cortando por dentro e sangrando ao mesmo tempo.
De repente, em poucos instantes, o mundo desaparece, quando a dor é muito forte não é possível lembrar de um resquício de sorriso, a felicidade parece que nunca existiu. É triste sentir dor, mas não a dor carnal de corte na cutâneo, a dor de um calo seco ou de um ralamento, é triste a dor da decepção. É a pior dor que existe. Não tem parto, nem dor nos rins que seja mais forte.
Por que a dor do parto é recompensada com um pequeno sorrisinho que vem logo. E a dor dos rins, essa eu já tive e cá estou, viva e bebendo mais água para evitar a reincidência. Mas a dor da decepção não tem motivo, não é prevista e nem tem cura. Fica a marca, a vida toda. Não sara, se abre de quando em vez a ferida. Arranca dos nossos rostos os melhores sorrisos e deixa a melhor pessoa do mundo um trapo. Depois de mulambo ninguém é mais gente. O bom da decepção é que surgem muitos poetas, não que todos os poetas sejam  decepcionados mas grande parte deles sim. 
Seja como for, sofrer não é muito bom, não sob minha ótica. Nós éramos para vir aqui na terra, ensaiar uns passos, apresentar o show, receber os aplausos e partir para outra jornada. Nada de tristeza, nem de decepção.

Coração de homem

03 agosto 2011

No coração de um homem
Queria saber o que tem
Se mistérios infindáveis
Se apreço a alguém.

Amores intermináveis?
Dissabores formigantes?
Ardores em frio peito?
Abraços aconchegantes?

Sorrisos estremunhados?
Sinais e gestos cativos?
Piscares de olhos calmos?
Silêncios indefinidos?

Sibilações de roucura
Desprendidos da vontade?
Veneno em doces palavras
Ilusionismo, maldade?

Doce mel um bom disfarce
De olhares aglutinantes?
Fantasias escondidas
Numa nuvem flamejante?

Talvez haja algum quê
De candura e nobreza
que faça com que ele veja
algo mais que a beleza.

Não sendo generalista
Mas tendo que definir
O homem é um ser perfeito
Só falta ele descobrir

Exercitar é um bom começo para a perfeição.

Seja um idiota

02 agosto 2011

(Arnaldo Jabor)

A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
hahahahahahahahaha!...
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva.
Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!

Um olá para o mês de Agosto

01 agosto 2011
Agosto tem a má fama de ser o mês do desgosto, superstições à parte gosto dele. É um novo começo do mesmo ano. A segunda metade, a outra parte, a parte final. Para saudar esse mês eu encontrei no recanto das letras uma poesia de Marcelo Braga e trago aqui para enfeitar o blog:

PARA O MÊS DE AGOSTO (01/08/2011)

Desejo nesse mês que se inicia:

ARREBATAMENTOS
SUSPENSÕES ETÉREAS
FASCÍNIOS
AMENIDADES
DIVERTIMENTOS
ENCANTAMENTOS
MAGIAS
DESLUMBRES
IRRADIAÇÕES
INSPIRAÇÕES
DELEITES
ENTUSIASMOS
PRAZERES

E para não ser TEDIOSO:

Alguns problemas para se resolver.