O semeador

14 abril 2011
Para Antônio Francisco

No início dos tempos havia no mundo
Um homem que andava com um velho bornal 
De couro, surrado, e num bolso da frente
Levava consigo diversas sementes 
Que ele plantava até no areal. 

Os outros falavam: mas ô cabra besta, 
Na areia não dá nem erva daninha! 
Mas ele queria mostrar para o mundo 
Seu sonho de eras, tão caro e profundo, 
Que nem a lança da morte detinha. 

E assim ele ia, em beira de estrada, 
Em serras, cerrados, nos cinzas desertos,
Deixando cair por entre seus dedos 
As secas sementes fecundas de enredo
Que floresceriam na época certa. 

Quando ele voltava no mesmo caminho
  E não encontrava o verde a derramar-se,
Sentia no peito o punhal da tristeza 
Por ver que seu sonho de tanta beleza
Não tivera forças pra à terra amarrar-se.

As pobres sementes por vezes brotavam 
Ao sol acenando com alegres dedinhos, 
Então vinha alguém sem nenhum cuidado
E com o fel da maldade em seu peito encerrado 
Encerrava a vida naquele caminho. 

Mas sonhos não morrem porque a vida falha 
Em dar um quinhão de bondade aos humanos,
Por isso que o homem nunca desistia
  Eaos confins do mundo feliz ele ia, 
Deixando seu rastro de amor pelos cantos.

Ninguém hoje sabe por onde ele anda 
Nesse mundo louco de gente inquieta, 
Mas eu desconfio que aquelas sementes 
São puras palavras jorrando valentes, 
E que ele está dentro de cada poeta. 

(Poema de Kalliane Amorim)