Entre ser educador e populista

18 julho 2011


O educador é quem se apresenta como uma autoridade em sala de aula, seja pela sua competência ao ensinar, seja enquanto envolve os alunos no processo de aprender usando linguagem adequada, seja pelos conhecimentos que apresenta e pela atitude, esta envolvendo os aspectos afetivos

Por Hamilton Werneck


Nós não lidamos com pregos, martelos, chaves de fenda e parafusos, nós lidamos com gente em fase de formação. Os alunos, em nossas aulas, observam nossas atitudes e as copiam. O professor, sendo uma autoridade constituída pela escola e aceita pelas famílias, é o representante legítimo para continuar o processo de educação que as famílias não conseguem abarcar numa sociedade em transformações e acelerações.

Nós sabemos que nossos alunos vivem num parque de diversões oferecido pela internet, sendo algumas aulas altamente enfadonhas e com uso de tecnologias ultrapassadas. As informações que eles trazem para as aulas são enormes e podem não ser acompanhadas pelos professores. Há, no entanto, uma diferença fundamental que deve ser analisada se o professor quiser manter sua autoridade em sala de aula: as informações os alunos podem trazer, até como colaboradores da própria aula, cabe ao professor transformá-las em conhecimento por meio de tarefas que façam os alunos interagirem com esses assuntos.

É por meio dessa competência de fazê-los agir e reagir diante de uma informação que o professor possibilitará aos alunos aprender, formar juízo de valor, criticar situações e em consequência ter pelo profissional que ali se encontra o respeito que a atividade merece.

Portanto, ao educador cabe estar atualizado, independentemente de o sistema em que trabalhe possibilitar ou não a formação continuada porque, se quisermos sobreviver nessa profissão, precisamos cuidar de nossa atualização constante.


PRAZO DE VALIDADE
Vale dizer que nosso prazo de validade não ultrapassa dois anos após a faculdade. Ou nos atualizamos ou seremos forçados a buscar outras tarefas profissionais, dado que alunos um pouco mais rebeldes ou mais espertos não aceitarão nossos argumentos e os caminhos usados para ir ao encontro de um novo saber.

É nesse ponto de encruzilhada que muitos educadores, renunciando aos métodos mais difíceis de buscar conhecimento, fazem opção por uma aproximação dos estudantes graças a um nivelamento estribado nas palavras e atitudes capazes de fazer perder-se o respeito que o aluno deveria nutrir pelo seu mestre.

Nesse sentido, o uso de gírias próprias da natureza adolescente pode ter o significado de aproximação ou de nivelamento, onde o educador perde a simbologia que o cerca. Falar palavrões em sala de aula ou no recreio dos alunos, contar piadas que possam levar a constrangimentos diminui a autoridade do professor, sobretudo porque seus alunos acabarão por perder o respeito, alicerce da autoridade que a profissão requer.

Torna-se esse educador um “populista”, uma espécie de pedagogo populista que confunde nivelamento com aproximação afetiva em que os alunos, reconhecendo nele a importância das tarefas e a competência, acabam por nutrir uma aproximadora consideração.

Enganam-se aqueles que pensam que os alunos gostam desse nivelamento, sobretudo quando, na hora de ampliar um vocabulário, percebem que seu mestre não o tem desenvolvido e, sim, no mesmo grau que eles. 

BANANA NO QUADRO
Conheci uma história que meus professores contavam sobre um paciente professor de matemática de uma escola da zona sul do Rio de Janeiro na década de 60, quando não se falava em bullying. Um aluno, desejando provocar a paciência desse professor, levou para a sala de aula uma banana um pouco apodrecida e jogou-a no quadro durante o desenvolvimento de uma equação. O professor, diante desse inusitado fato, sobretudo para uma época em que a autoridade era pouco questionada, abriu um parêntese e, depois da mancha deixada pela banana, fechou-o. O causador do fato ficou tão estarrecido e envergonhado que procurou o professor ao final da aula e dele ouviu uma observação de altíssima inteligência:
— Meu caro aluno, a beleza da matemática permite conviver com situações muito complexas. Ao final da equação podemos adicionar a banana à raiz encontrada ou, simplesmente, descartá-la. — Houve pedido de desculpas e até vergonha por parte do aluno.
Esse professor demonstrou uma capacidade invejável para educar alguém. Não perdeu a paciência, não perguntou qual foi o “animal” que atirou a banana no quadro de giz nem usou vocabulário compatível com a torcida que agride um árbitro de futebol ao marcar um pênalti inexistente, numa partida empatada, nos minutos finais da prorrogação do segundo tempo.
Essa é a reflexão que os educadores precisam fazer. Nós não temos escolha, se quisermos ser educadores temos de aderir à competência humana mais evoluída e civilizada. O contrário disso pode ser apenas um populismo pedagógico que terá como conclusão a depreciação de nossa imagem e o descrédito diante dos alunos.
Retirado da revista língua portuguesa