Divagações, pensamentos e outros.

05 março 2011
Sexta feira de carnaval. Estou em casa, no quarto, enquanto Thiago vê TV na sala. Não fomos para as festas, blocos e folia que essa época oferece, nunca gostei muito da sensação de poder tudo e do vazio angustiante que fica depois de festas como essas.
É ruim ter a sensação de que abusou-se do prazer, fez-se de tudo o que costumeiramente não fazemos. Gosto até de tomar uma cervejinha, ouvir música, conversar com os amigos. Mas os amigos vão para os carnavais, então só me resta ficar em casa e ver televisão, ler blogs e jogar as fazendinhas na vida em sites de relacionamento. Não que isso eu não faça nos outros dias, mas, ficar em casa quando todo mundo sai é realmente estranho.
Não fazer as malas e migrar na época de migração faz-nos sentir deslocados e não-descolados como as outras pessoas são. Embora eu já tenha passado da fase de querer achar um ponto em comum com o resto do mundo, o resto do mundo quer que sejamos iguais a ele ou então somos motivo de comentário.
Pra falar a verdade nunca tive intenção de me padronizar. Essa é até uma questão de interessantes discussões. Enquanto a mídia insiste que tenhamos que ser de tal jeito (cabelo liso, magras, gostar de baladas, sermos descoladas, independentes, mulheres modernas e etc. e tal), não me lembro de ter feito algo na vida que tenha sido motivado pela “onda”, e talvez sim, mas não coisas que me descaracterizassem quanto à minha personalidade, quanto às minhas escolhas, se o fiz foi por falta de opção.
Por exemplo, na cidade em que moro atualmente, pequena, de interior, todo mundo faz as mesmas coisas. Isso por que as opções são poucas ou nenhuma. As roupas de um jeito só, pois, existem poucas lojas e esse é só u exemplo, pois eu ficaria a noite inteira contando as formas de padronização que existem aqui.
Seja como for, detesto isso. A falta de opção que nos faz sempre seguir um caminho já andando, já trilhado. Falta criatividade. As pessoas estão sempre querendo economizar tempo e com medo de errar, por isso, fazem o que os outros fizeram. Compram o que os outros compraram. Lêem o que os já leram, quando lêem...
Aí, já descambo pra uma outra discussão: a valorização do profissional da educação no Brasil. Aliás, que valorização? A melhor expressão seria: desvalorização do profissional da educação no Brasil. Pensei nisso, por que estava eu, Thiago e uma amiga, Aline, que faz direito, falando sobre concursos, os salários, as horas de trabalho, o regime. Fiquei embasbacada (querendo imitar Machado de Assis) com os salários da área jurídica para quem tem apenas nível superior, pois para chegar a esse nível, na profissão que escolhi, que é a de docente universitária, tenho que concluir meu doutorado e ter DE (dedicação esclusiva).
É de entristecer qualquer um que rala, que estuda pra ser um bom professor, se qualifica, faz doutorado sanduiche, sabe falar outras línguas, escreve bem, tem domínio da língua culta e carrega um título de doutor que foi muito sofrido em contrapartida a quem apenas com o bacharelado, tem salários altos e ainda tem o “direito” de ser chamado de doutor por causa de um decreto feito ainda no século XVIII que não foi revogado.
Outro dia, lendo sobre essa discussão se tem direito ou não de ser chamado de doutor, um bacharel em direito, vi um argumento favorável que dizia que eles defendem teses diante de um juiz, passam dias preparando uma peça e por isso merecem o título, já que um doutor, para conseguir o título, também defende uma tese. Esse é um erro de conceito, por que como diria Mario Prata existem teses e teses, em tese. A tese de um advogado perante um tribunal é uma, baseada em leis e montadas conforme seus interesses, que podem ser condizentes com a verdade ou não, é uma tese, não a verdade. Já a tese de um doutorando deve ser feita com base na literatura existente que em tese é verdade, até ali, pelo menos. Se depois as teorias nas quais ele se embasou forem derrubadas, pena, mas ele não agiu de má fé. Naquele momento, era essa a verdade.
Já no caso de um advogado ele tem compromisso apenas com a argumentação. Se a tese é verdadeira não é a questão, a questão é: a tese dele foi a melhor defendida? Ele ganhou a causa? Assim sendo, não é e nem nunca foi um trabalho científico, portanto, não merecem o título de doutores.
Essa discussão renderia mais algumas páginas, mas estou cansada. Cansada de ser sempre o lado lesado. Ser professora, mulher, nordestina, de origem humilde e sem padrinhos, cansa muito. Além de tudo ser acadêmica hoje em dia não é lá uma grande coisa. Não tem status.