Crônica do amor inverso

23 fevereiro 2011
“O amor quando se é sentido é inexplicável”, isso é algo de que tento me convencer quando penso no amor que sinto pelos animais, crianças, idosos e pelas plantas. Seres que por natureza são frágeis e vulneráveis a todo tipo de ação humana, que tanto pode ser boa quanto má.
Certo dia, estava em casa e lá fora chovia e ventava muito. Desci do primeiro andar onde moro pra falar com uma vizinha minha, no mesmo instante em que avistava um gatinho mesclado de preto e branco parado em meio à chuva. Entendi rapidamente o que acontecia: ele estava doente, pois conhecendo os gatos como todos conhecem, não precisa ser expert nisso, eles não gostam de água, principalmente se for fria.
Desci com a minha amiga, com um pano na mão, peguei o gato como as mãos costumam a carregá-los, pela parte de trás do pescoço e levei-o para um lugar onde não chovia, embora ainda fosse na rua. Como ele estava decrépito imaginei que dar-lhe comida poderia salvar-lhe da iminência da morte.
Assim, Andrei (o marido da minha amiga e vizinha) trouxe uma seringa com um pouco de leite e tentou colocar-lhe na boca, mas ele estava fraco ao extremo, nem conseguia engolir.
Sentia tanta compaixão e tristeza por aquele ser, tão indefeso, jogado ao meio da rua. Talvez até mais do que por um ser humano (é exatamente aqui que começa o meu dilema de culpa, pois sei que algumas pessoas podem julgar mal por isso que afirmo, mas, não posso disfarçar sentimentos), que podia pedir, roubar. Mas não entrarei na discussão de quem é mais importante ou que merece mais atenção. Qualquer que precise de ajuda ou amparo deve conseguí-lo se a medíocre e capitalista sociedade permitir.
Apenas me condói não poder ajudar. Engasgo, choro. O inevitável sempre trás sofrimento por que não somos acostumados a sermos impotentes e quando não agimos diante de uma situação corriqueira de necessidade de amparo não é por impotência, na maioria das vezes, é por omissão.
E eu, no exercício de minha vida, pequena, e não insigne recuso-me a omissão. Recuso-me. E se vocês se recusarem também poderão contribuir para um mundo mais humano.