Desta longa e dura caminhada
levo apenas o que de abstrato fica
nem dinheiro, motivo do trabalho
nem objetos que seu poder implica
Os imóveis, com suor conseguidos
As montanhas de pares de sapatos
as coleções de perfumes de luxo
os livros na estante empoeirados
Não levo nem os bichos que criei
nem pessoas com as quais vivi
nem retratos alterados que tirei
nada do que muito consegui
as lembranças que de tudo eu guardei
um pedaço de cabelo de uma amiga
um galho de uma planta arrancada
são lembranças que tenho desta vida
um papel de confeito num diário
uma velha embalagem de "batom"
o total de lembranças é vasto
inclusive memórias de som
músicas ouvidas em instantes
em minha memória eternizados
e o que levo desse curso viajante
é registros de momentos acabados
é somente o que fica indelével
emoções, saberes e sentimentos
o que vale nesta rápida viagem
é guardar o que nos faz melhor por dentro.
O meu amor
Eu te gosto de um jeito desigual
Assim plano, disforme, volátil e denso.
Comprime os sentimentos dentro de mim
Sentir o que te sinto.
Chega a ser insustentável esse jeito de amar...
O meu amor é descomunal,
Não é pequeno, não tem tamanho
Não é natural.
Não é divino, nem sublime
Não é carnal.
Não é a forma de escolher uma pessoa certa
Para realizar meus planos.
Não tenho planos para essa vida,
Nem modelos nem padrões a seguir.
O que vier tá certo, é justo, eu
vou fazer...
Mas tem que ser com você...
Eu amaria a outros se você não existisse
Mas esse amor, posso lhe garantir,
Seria como os outros sentem
Sem graça, que esfria, que precisa de estímulos
Para não perecer.
O meu amor veio sem data de validade,
Não há prazo, não expira,
Não precisa adormecer...
Esse amor é estranho
Por que não explicar como é...
Mas sei que não é nada que os livros de auto-ajuda dizem...
O que eu quero é te ter por perto...
É possuir, é ter pra mim...
E sendo assim tu és meu
E não podes ser dividido com ninguém
Esse amor é exclusivo,
Não precisa de licença nem de permissão,
Ele é nosso e somente
Obedece ao meu coração.
O grande vazio
Não, eu não sou vazia.
Eu renovo meus sonhos a cada ano
Como uma árvore cujas folhas caem no outono
E que o faz para que novas folhas nasçam.
E não sou vazia.
Pois o meu coração alimenta esperanças
De que as pessoas melhorem
De que nós possamos caminhar de mãos dadas.
E ainda que não seja vazia
Tenho uma imensidade de desejos
Por isso eu choro...
Por que não me compreendem...
Minhas lágrimas são a impressão
Que fica do mundo.
Esse mundo insano e egoísta.
E que por mais que se preguem a tolerância
Pessoas morram por causa de sua cor...
Pessoas sofram com preconceitos...
Com mentalidades mal formadas...
Esse mundo débil não é o dos meus sonhos
E nem dos meus desejos...
Esse mundo sim continua e será por muito tempo
Vazio de amor...
O meu ver
Vejo meu tempo como quem olha uma ampulheta,
Meu tempo não de tempo,
Meu tempo de mundo.
Vejo meu mundo como quem vê a um filme,
Que não tem roteiro,
Que segue uma trilha cataclismática .
Vejo as pessoas como quem é está de fora,
Dos gestos, ações, pensamentos e modo de vida,
Elas fedem a egoísmo, a auto-reconhecimento.
Vejo a moda como quem olha uma onda,
Afoga os que não surfam,
Mata os que não a conhecem.
Vejo os amores como
quem assiste a uma tragédia,
Com lágrimas nos olhos por saber que o homem não ama,
Ele apenas que parecer que o sente.
Vejo você como um líquido,
Não tem forma própria, precisa dos outros para se manter
E sempre obedece aos desejos de que lhe toma.
Vejo, vejo...apenas vejo...
da arquibancada da minha vida...
Sobre a saudade
http://nandaevc.blig.ig.com.br/imagens/falta.jpg
- Sobre se há vida depois da morte: Nesta semana, quando as almas piedosas fazem jejum e meditam sobre a paixão e a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, e as almas não piedosas se entregam a rituais gastronômicos de devoração de chocolate, achei apropriado informar os meus leitores sobre aquilo que sinto e penso acerca da vida após a morte. Meu coração está tranquilo e não há dúvidas que o perturbem porque são duas, apenas duas, as possibilidades à nossa frente. Primeira possibilidade: há vida após a morte. Estou tranquilo porque, se há vida após a morte, é porque há um Poder Misterioso que a garante, poder esse a que alguns dão o nome de Deus, sem saber o que ele seja. No caso de haver esse Poder Misterioso, é minha tola convicção (todas as convicções são tolas) de que ele é só amor. Não estou sozinho nessa crença, tendo a meu favor o testemunho de profetas, místicos e poetas. Sendo só amor, é claro que a vida após a morte será uma realização do amor. A ideia de que o Poder Misterioso é um torturador que mantém, para prazer próprio, uma câmara de torturas sem fim chamada inferno, é uma calúnia espalhada pelo seu inimigo. Mas, o que é a realização do amor? O amor se realiza quando recebemos de volta as coisas que amamos e perdemos. É por isso que sentimos saudade. A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. |
O Cravo Não Brigou Com a Rosa ( O politicamente correto)
|
Papos com as mães II
-Quando é a reunião de pais na sua escola filho?
- Não sei mãe, ainda não recebi o convite avisando.
-Mas já está na época, procure saber viu? Aliás, como estão suas notas?
- Estão boas.
- Boas como?
- Boas ora, não lembro direito, são tantas disciplinas, trabalhos, textos que nem sei como é que eles calculam isso.
- Hum, sei... Qualquer dia apareço la na escola de surpresa, ta ouvindo?
- Tou, mas você numa tá avisando que vai? Então não é surpresa. Já sei, quer que eu me prepare né? Pra que você faça surpresa e fique tudo bem...
- Menino sabido!
- Tá certo, pode deixar, mas vou logo avisando que fiquei em recuperação em matemática.
- O quê?????
....................
- Não sei mãe, ainda não recebi o convite avisando.
-Mas já está na época, procure saber viu? Aliás, como estão suas notas?
- Estão boas.
- Boas como?
- Boas ora, não lembro direito, são tantas disciplinas, trabalhos, textos que nem sei como é que eles calculam isso.
- Hum, sei... Qualquer dia apareço la na escola de surpresa, ta ouvindo?
- Tou, mas você numa tá avisando que vai? Então não é surpresa. Já sei, quer que eu me prepare né? Pra que você faça surpresa e fique tudo bem...
- Menino sabido!
- Tá certo, pode deixar, mas vou logo avisando que fiquei em recuperação em matemática.
- O quê?????
....................
De afrodisíacos
Adélia Prado
Tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo. É porque lá em casa a gente não podia falar nem diabo, que levava sabão, quanto mais... ah, no fim eu falo. Coisa do Teodoro, ele quem me contou, você sabe, marido depois de um certo tempo de casamento fala certas coisas com a mulher. O seu não fala? Pois é, e de novo tem um tempão que aconteceu. Lembra aquela história dos queijos? Igual. Demorou um par de anos pra me contar. O pessoal dele é assim, sem pressa. Tem uma história deles lá, que o pai dele, meu sogro, esperou 52 anos pra relatar. Diz ele que esperou os protagonistas morrerem. Tem condição? Mas o Teodoro — foi quando a gente mudou pra casa nova — teve de ir nas Goiabeiras tratar um marceneiro e passou, pra aproveitar, na casa da tia dele, a Carlina do Afonso, e encontrou lá o Gomide. Tou encompridando, acho que é só por medo do fim, mas agora já comecei, então. Então, diz o Teodoro, que o Gomide tirou do bolso do paletó uma trouxinha de palha de milho, cortadas elas todas iguaizinhas e amarradas com uma embirinha da mesma palha.
Comentários sobre a abertura do Concurso do Estado do RN
Nesta semana o edital do concurso público para o Magistério no RN foi publicado. Ao todo são 3.500 vagas divididas entre 600 para suporte pedagógico e 2.900 para disciplinas específicas. Conforme a Secretária de Estado da Educação "Com a realização do concurso, o Governo está atendendo a uma antiga reivindicação da categoria e agindo para cobrir o déficit de professores em sala de aula nas escolas estaduais. Estamos também, com isso, dando mais qualidade ao ensino em nossas escolas".
- Particularmente, pegando as palavras da secretária, não acredito que um concurso vá trazer "qualidade " ao ensino em nossas escolas. Não apenas um concurso, sabe? A formação dos profissionais é um grande ponto a se pensar e embora seja até senso comum o que estou dizendo os governos fazem ouvido de mercador em relação aos problemas da sociedade e principalmente tratando-se de reivindicações das classes educacionais.
- "O governo está atendendo a uma antiga reivindicação da categoria", essa frase demonstra total apoio às ações do governo, visto que o governo "atende" às reivindicações. Coloca o governo como agente, bem-feitor e compadecido da categoria o que foge à verdade, pois não há como as escolas funcionarem sem profissionais e eu conheço vários deles que se aposentaram, que saíram por que foram chamados para outros concursos e até gente que morreu. Então, isso é uma reivindicação atendida?
O que não entendo é o por que de os discursos políticos continuarem recheados de subentendidos e com uma ideologia de camaradagem. O que eles tentam mostrar é que estão sendo bons, que estão sendo ótimos e que estão nos fazendo um favor, quando na verdade estão fazendo algo muito aquém de suas obrigações.
Esse concurso não dá nem para o começo, imagine atender às necessidades reais da educação do nosso estado. Haja paciência para tanta abobrinha!
Dia do professor
Em homenagem a esse profissional valoroso fiz esse texto para o blog de Azevedo http://noticiaspoliciais2009.blogspot.com/2011/10/dia-do-professor.html
Neste dia do professor, munida de algumas leituras poéticas e líricas, atrevo-me a falar dos mestres. Mestres esses que em seu tão negligenciado percurso trabalham com afinco para que seu dever seja cumprido, apesar de. Ser professor é trabalhar com a hipótese de colocar um saco vazio de pé, apesar de. É ensinar o que é uma jabuticaba a uma criança que não come muitas frutas por causa da falta de recursos, é falar de países e continentes diferentes a alguém que foi no máximo a 10 km de distância da própria casa, é o artista do impossível.
Mas não falo do professor, que como a carga semântica sugere é aquele se detém a passar conhecimentos científicos, apenas, meu interesse é pelo educador; aquele que como diz Rubem Alves tem a função de mostrar a vida àquele que ainda não viu. O educador tem compromisso com a verdade, com a vida, com o amor. Não se deve ensinar aos nossos alunos o que é uma árvore e quais são suas partes apenas, é preciso ensiná-los a amá-las e a protegê-las pois assim não faltarão cores na nossa vida.
Como artista do impossível o educador vê o que ninguém vê e projeta o que ninguém sonha, ele é capaz de expandir os horizontes de alguém, é como se nos déssemos novos óculos.
Como artista do impossível o educador vê o que ninguém vê e projeta o que ninguém sonha, ele é capaz de expandir os horizontes de alguém, é como se nos déssemos novos óculos.
É em homenagem a esse artista do impossível que escrevo esse texto hoje, desejando que a tarefa de educar nunca termine e que sua caminhada seja mais leve, branda e recompensada.
Feliz dia do professor.
Sobre crianças e infância
Lá na cidade de Patu, onde passei boa parte da minha infância tive alguns de meus melhores momentos. Vivíamos numa casinha de tijolos, apenas o início da casa, a sala nem grande nem pequena porém vazia de móveis, um quarto com a janela para a rua, uma outra sala de tijolos e mais pra trás o quarto e uma cozinha feitos de pau-a-pique ou como conhecemos aqui, de taipa.
Na cozinha um fogão a lenha feito de tijolos e era onde eu sempre colocava o fio do meio da palha de coco pra queimar e minha vó que foi mais mãe do que avó, brigava por que dizia que "desgraçava a cozinha de fumaça" e eu saía dali sonsa. No mesmo lado que o fogão estava havia uma janela que dava pra um beco que havia de lado da casa. Ali existiam algumas plantas de pequeno porte que mãe (avó) sempre aguava por que ela sempre gostou de rosas. Acho que ela gostava muito de mim também pois quando eu acordava e saia num pulo só já para o quintal pra se achava alguém ela sempre me dizia "acordou, minha rosa?" e eu, como toda criança que é amada, fazia aquela cara de sono e de manha e ia para os braços dela.
O meu caminho
A pedra arranha os meus chinelos
de dedo que forram os meus passos
que levam todo o comboio
de um conjunto de partes descansadas
levadas de uma forma inerte
a um destino desconhecido
vagueiam no vazio infindo
a achar que estão indo certo
Perguntam-me para onde seguem
as partes imóveis do pesado corpo
respondo que eu desconheço
apenas sigo o triste comboio
que segue à luz das estrelas
nas noites em que elas despontam
com elas inventam um mapa
sem elas andam pelas sombras
Por que as estrelas? Alguém me pergunta.
Por que são românticas, assim respondo
são almas que ascenderam
são guias que direcionam
são cálidas, singelas e firmes
são altas, altivas e fortes
são livres como perdizes
seguem a sua própria rota
Quem dera eu assim seguindo
as estrelas por onde andam
eu fosse pelo mesmo rumo
pudessem navegar o mundo
andasse um roteiro vasto
pudesse escolher os dias
em que eu aparecesse ou
se apareceria
mas ando por entre ruínas
vales e montanhas sujos
sob as estrelas que não iluminam
a terra cheia de escombros.
Língua ou gramática, eis a questão
Sírio Possenti
De Campinas (SP)
Uma passagem de uma coluna do professor Pasquale (Folha de S.Paulo, 08/01/2009, p. C2) fornece o pretexto para explicitar aspectos de uma questão que quase sempre são inadequadamente misturados. Começa citando um poema de Bandeira, que foi musicado por Dorival Caymmi e do qual se tratou em prova da Fuvest: “O rei atirou / sua filha ao mar / e disse às sereias: / - Ide-a lá buscar”.
A propósito das questões formuladas (uma perguntava pelo efeito expressivo de “ide” e outra mandava substituir a segunda pessoa do plural pela terceira), mas depois da segunda, que talvez até seja mais fácil que a primeira, faz o seguinte comentário: “Agora o bicho pega de vez, ao menos para quem teve o azar de estudar com “professores” que julgam que nas aulas de português só se deve falar da língua viva, da língua de hoje”.
Eram tuas
Eram tuas as mãos que eu sentia em meu ombro
nas noites de pouca luminosidade
enebriadas pela penumbra
me envolviam
Eram pesadas, as mãos que pousava na minha face
traziam as marcas de muita labuta
tocavam o rosto como quem ama
trazia nelas um mapa
Eram enormes, as mãos que tocavam meus lábios
numa etérea insana viagem
de quem foi pra muito longe
mãos de quem sente saudade
Eram tuas, as mãos que seguraram as minhas
prendendo como quem tem medo
de quem não tem mistério
de quem quer levá-las pelas longas estradas.
Para as mães extremosas…
Eu tenho planos definidos sobre as coisas que quero deixar escritas, como se fossem um testamento, as tais “últimas palavras”. Quero terminar um livro que comecei faz cinco anos, com os essenciais da minha filosofia da educação; quero terminar um outro, sobre a estética do envelhecer; quero também escrever um outro, contando aos meus colegas de profissão, terapeutas, aquilo que julgo ter aprendido. Infelizmente, entretanto, a vida está cheia de acidentes que me desviam do meu alvo. Aconteceu comigo essa semana: já tinha esboçado a minha próxima crônica, que seria sobre a escola dos meus sonhos. Mas aí, numa curva do caminho, um demônio se apossou de mim, baralhou meus pensamentos pedagógicos e me ordenou que escrevesse uma coisa horrível que não estava nos meus planos. Refuguei, disse que aquilo eu não escreveria, sabia que seria odiado por quem me lesse, mas não houve jeito. Quanto mais eu resistia mais ele me apertava o gogó. “Se você não fizer o que estou mandando eu não deixarei que você escreva o que você deseja escrever…” Assim, vou escrever o que ele me ordenou escrever, não sem antes pedir perdão aos meus leitores – esperando que eles entendam que não sou eu quem está escrevendo. Estou possuído e só vou escrever o que ele ditar.
Sobre a morte e o morrer
Rubem Alves
O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.
Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”
Papos com as mães
Na infância
-Mãe, quando eu crescer eu quero ser médico!
- Tá bem filho, você vai ser!
- E eu vou ser muito rico, está ouvindo?
-Sim, estou. A mamãe vai ficar muito orgulhosa de você.
-Por que eu vou ser médico ou por que eu vou ser rico?
- Os dois. Mas pra isso você tem que estudar muito, tentar sempre ser o melhor.
- Mas eu já sou!
-Eu sei, mas tem que continuar.
| ||||
|
Inscrições abertas para o Concurso Zila Mamede
Cada poeta pode inscrever de uma a cinco poesias inéditas, em língua portuguesa, que não tenham sido publicadas de forma impressa
O V Concurso de Poesias Zila Mamede, promovido pelo jornal Potiguar Notícias e pela ONG Educante tem como objetivo revelar poetas iniciantes do Rio Grande do Norte, divulgar a produção de poetas em atividade, além de homenagear Zila Mamede, uma das maiores poetas da história do Estado e do País.
Os poetas concorrentes devem obrigatoriamente residir no Estado do Rio Grande do Norte e cada um pode inscrever de uma a cinco poesias inéditas, em língua portuguesa, que não tenham sido publicadas de forma impressa em nenhum lugar ou premiadas em algum Concurso local ou nacional.
Os concorrentes devem mandar as poesias em quatro vias, em papel ofício branco, texto digitado em Word, fonte Times New Roman em corpo 14. Nenhuma identificação do autor deve ser escrita nas folhas. Elas devem ser colocadas em um único envelope grande.
Concurso Nacional de Literatura João-de-Barro 2011 |
PRÊMIO SESC DE LITERATURA -As inscrições para a edição 2011/2012 foram prorrogadas até 30 de setembro
APRESENTAÇÃO
- O PRÊMIO SESC DE LITERATURA é promovido pelo SESC – Serviço Social do Comércio, e objetiva premiar textos inéditos nas categorias CONTO e ROMANCE, destinados ao público adulto, escritos em língua portuguesa, por autores brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. Não é permitida a inscrição de menores de 18 anos, bem como de residentes no exterior.
INSCRIÇÕES
- 1 - Cada concorrente poderá participar com apenas uma obra em cada categoria. Caso participe em ambas as categorias, as inscrições deverão ser enviadas separadamente, com pseudônimos distintos.
- 2 - Os textos inscritos deverão ser inéditos, ou seja, nunca terem sido publicados. Entende-se por publicação o processo de edição de uma obra literária e sua distribuição em livrarias ou pela internet, ainda que não possuam número de registro no ISBN.
E o que é a vida?
Uma gota que cai...
Um raio que brilha...
Uma flor que desabrocha...
Um arco-íris num dia de chuva...
Um conta gotas...
Um vento forte ou uma brisa...
Um sorriso em meio a tristeza...
Um olhar esperançoso...
Uma mão que lhe segura...
Um desejo...
Uma saudade...
Um amor...
dor...
É ser...
É estar...
É parecer...
doar...
padecer...
esperar...
conhecer...
agradar...
subverter...
imitar...
crescer...
aprender...
difundir...
É a infinidade de possibilidades que só será possível se os verbos forem colocados no gerúndio.
Um raio que brilha...
Uma flor que desabrocha...
Um arco-íris num dia de chuva...
Um conta gotas...
Um vento forte ou uma brisa...
Um sorriso em meio a tristeza...
Um olhar esperançoso...
Uma mão que lhe segura...
Um desejo...
Uma saudade...
Um amor...
dor...
É ser...
É estar...
É parecer...
doar...
padecer...
esperar...
conhecer...
agradar...
subverter...
imitar...
crescer...
aprender...
difundir...
É a infinidade de possibilidades que só será possível se os verbos forem colocados no gerúndio.
A mao
Sua mão esteve suja, sujíssima e não a cortara?
Por que não cortara?
Era preciso fazê-lo, assim disse Drummond.
Mas a pudeste lavar e há pouco tempo.
Pouquíssimo tempo.
Não havia nojo, não precisou cortá-la,
poli-la, escová-la.
Eu sei que terias o maior prazer em levá-la a boca
era um sujo sereno, puro, romântico.
Um sujo incomparável, de quem ama e de quem
amará muito ainda.
Era um sujo alegre, sinal de vida. sinal de que
um líquido a alimenta a parte cuja mão tocou.
Não precisou jogá-la ao mar
nem que colocassem outra em seu lugar.
A mão que tens continua sendo pura, transparente.
(Paródia )
http://www.zonalibre.org/blog/moe/archives/imagenes/a-quatro-maos%5B1%5D.jpg origem da imagem
Divagações infindáveis
Alguns momentos, não raros, em casa, nas nossas reflexões diárias sentimos uma saudade angustiante, que chega a machucar. Costumo a achar que é a falta de alguns momentos amor que nos derrete todos, talvez da adolescência para aqueles que já passaram dela, do “adolescer” em si. Queremos voltar um pouco, sentir a mesma sensação de alguns anos atrás apenas por segundos, vestir o mesmo Jeans 38 que não cabe mais, a mesma blusa justa, o mesmo tênis de futsal, balançar as longas madeixas que chegam a alcançar a cintura. Ter a mesma falta de preocupação daquela época, ter os mesmos momentos especiais juntos das pessoas com que passamos os maravilhosos anos .
É difícil acreditar que somos adultos, que temos responsabilidades a cumprir, e não queremos nos frustrar se não conseguirmos a uma certa altura da vida um emprego decente. Queremos a nossa liberdade de volta, os tempos de amor intenso, o olhar singelo das pessoas. A simplicidade de ficarmos uma hora ou mais sentados na calçada conversando bobagens sem ter compromisso com a seriedade, com a imagem, com o autoretrato. Pergunto-me às vezes quem nos obriga a mudarmos. Quem? Quem infiltra em nossas cabeças que precisamos crescer? Que precisamos ser sensatos, que temos explicações a dar? É alguém invisível. Eu sinceramente não sei.
Por vezes não me reconheço de tanto que mudei. Os meus pensamentos sobre as outras pessoas, as exigências de uma vida burramente homogênea em alta escala. É ridículo o fato de todos usarem o mesmo colar de ouro, os mesmos anéis, as mesmas roupas, a maquiagem é idêntica. Afinal, desde que inventaram moda desinventaram o estilo. E a moda está na moda. Consome toda a criatividade das pessoas. E nisso de crescer, de estar num lugar social faz com que você nem perceba as amarras e de repente se percebe que não se pode usar aquela roupa pra ir a tal lugar por que todos ignorarão. E mais que de repente se arrumar torna-se um ato público e não uma satisfação pessoal.
Toda a nossa sede de justiça, resposta rápidas, soluções vai ficando menor. E já não somos jovens. Não somos mais. A vida cuida de amolecer as pedras dos nossos desejos e a água do tempo vai quebrando nossas resistências.
Com o tempo, vem a resiliência. As aventuras da vida nos ensinam que ser inflexível é pior, é mais fácil quebrar um objeto teso a um maleável. Existe a certeza de que tudo se transforma. Os físicos estavam certos, assim como Cazuza: o tempo não pára e leva com ele os nossos melhores momentos. Aqueles em que rimos com um amigo na calçada, falando besteira ou rindo de alguém que passa do outro lado da rua. Aquelas intrigas da adolescência, quando sabemos que as menininhas da outra turma deram em cima do nosso paquera. As notas baixas que tanto preocupam nossos pais e que para nós às vezes é vantagem contar como recuperamos.
Tempos bons os que deixam lembranças encantadoras. As aventuras às quais nos submetemos para ter o que contar, ou não... Nem sempre essas aventuras podem fazer parte do livro aberto, apenas de nossos pensamentos, de nossos segredos. É bom ter segredos, alimenta o mistério existente na alma e nos torna mais fortes.
Esses sentimentos que não conseguimos definir ao certo fazem parte da natureza humana de sempre desejar o que não se pode ter. Lembramos do passado querendo revivê-lo, pensamos no futuro querendo que chegue rápido, e a vida é o que se passa entre o passado e o futuro. Pensamos demais nos tempos ausentes. Sim, ausentes por que não estão cá, agora, nessa hora.
Poema
O poeta mastiga o lápis em busca de uma ideia viva,
mas seu poema não sai.
Sua cabeça gira, seu corpo vagueia, parece que sai de si
num flutuar de imaginações mas nada vai para o papel.
O poema que ele queria deveria ser romântico, falar de amor
de uma nova forma, inusitadamente.
Não sai nada.
Nem um rascunho mal feito com letras tortas e ilegíveis.
A sua principal ideia está ali, pronta para ser moldada
como uma panelinha de barro,
entretanto a voz da alma cala
e o poeta procura viver novamente
já que seu principal poema
não quis sair.
Teimosia
Ponho-me a escrever seu nome na areia da praia deserta e quando findo
a onda vem com seus modos peraltas e apaga uma letra, faço-a
novamente e a onda retorna a apagar, refaço mais uma vez e a sua teimosia me vence,
deixo apenas marcas do seu nome na fina areia.
É como se me dissessem que não podes estar ao meu lado,
que seu nome é um corpo estranho ao meu alfabeto,
a onda me traz um recado dos céus,
que nesse deserto de areia não se pode nem sonhar.
01/09/2001
Fui
Andei pelas selvas
sonhei com amores
cantei meus temores
deitei-me nas relvas
amei passarinhos,
plantei muitas flores
curei muitas dores
passei meu carinho
fui homem, mulher
moleca, menino
fui sonho morfino
que ninguém quer
fui tudo e nada
a luz do caminho
a pedra, o destino
só não fui amada.
A vida
A vida é um corredor comprido
com as coisas espalhadas pela chão.
Às vezes é um saco, chega a ser um papelão.
Não é mais que uma bagunça impossível de arrumar
é um papel pintado com cores para sonhar.
A vida é uma busca num túnel, sempre em busca de uma luz
uma tragédia romântica que por vezes nos seduz.
Não quero passar direto pelo imenso corredor,
sem pegar algumas coisas, uns pinguinhos de amor
alguma folhas fininhas que são feitas de humildade,
uns grãozinhos de bondade e outros de felicidade
Umas pedrinhas de calma sei que um dia servirão
umas gotas de amizade, de amor e compaixão,
sei que de sentimentos bons sempre eu precisarei
e se houver outra vida, essas coisas levarei.
com as coisas espalhadas pela chão.
Às vezes é um saco, chega a ser um papelão.
Não é mais que uma bagunça impossível de arrumar
é um papel pintado com cores para sonhar.
A vida é uma busca num túnel, sempre em busca de uma luz
uma tragédia romântica que por vezes nos seduz.
Não quero passar direto pelo imenso corredor,
sem pegar algumas coisas, uns pinguinhos de amor
alguma folhas fininhas que são feitas de humildade,
uns grãozinhos de bondade e outros de felicidade
Umas pedrinhas de calma sei que um dia servirão
umas gotas de amizade, de amor e compaixão,
sei que de sentimentos bons sempre eu precisarei
e se houver outra vida, essas coisas levarei.
Semelhança
Olho os nossos poemas
que escrevemos reciprocamente
como eles são parecidos
amargos, tristes, carentes
em verdade eles falam
tudo que sentimos ou sonhamos
falam das nossas alegrias
dores, desejos, enganos
olho você e me vejo
ouço você e me sinto
sinto você e precebo
que o amo e que não minto
Assim somos tu e eu
parecidos, somos um
às vezes somos distintos
as vezez somos nenhum.
Desejo impossível
Curvarei-me a teus pés
jogarei em tuas mãos
o destino de minha vida
o segredo do meu coração
que por ti sofre agora
por um dia desprezar-me
e taciturno implora
uma chance para amar-te
amar-te, somente amar-te
é meu desejo constante
uma utopia incerta
um sonho muito distante
distante da real vida
que vivo sem ter prazer
por causa de um erro antigo
não queres mais me querer.
01/08/2001
Sobre a decepção
É triste escutar uma canção triste e sentir o que ela passa.
Saber da dor dos outros como se fosse nossa, sentir algo cortando por dentro e sangrando ao mesmo tempo.
De repente, em poucos instantes, o mundo desaparece, quando a dor é muito forte não é possível lembrar de um resquício de sorriso, a felicidade parece que nunca existiu. É triste sentir dor, mas não a dor carnal de corte na cutâneo, a dor de um calo seco ou de um ralamento, é triste a dor da decepção. É a pior dor que existe. Não tem parto, nem dor nos rins que seja mais forte.
Por que a dor do parto é recompensada com um pequeno sorrisinho que vem logo. E a dor dos rins, essa eu já tive e cá estou, viva e bebendo mais água para evitar a reincidência. Mas a dor da decepção não tem motivo, não é prevista e nem tem cura. Fica a marca, a vida toda. Não sara, se abre de quando em vez a ferida. Arranca dos nossos rostos os melhores sorrisos e deixa a melhor pessoa do mundo um trapo. Depois de mulambo ninguém é mais gente. O bom da decepção é que surgem muitos poetas, não que todos os poetas sejam decepcionados mas grande parte deles sim.
Seja como for, sofrer não é muito bom, não sob minha ótica. Nós éramos para vir aqui na terra, ensaiar uns passos, apresentar o show, receber os aplausos e partir para outra jornada. Nada de tristeza, nem de decepção.
Coração de homem
No coração de um homem
Queria saber o que tem
Se mistérios infindáveis
Se apreço a alguém.
Amores intermináveis?
Dissabores formigantes?
Ardores em frio peito?
Abraços aconchegantes?
Sorrisos estremunhados?
Sinais e gestos cativos?
Piscares de olhos calmos?
Silêncios indefinidos?
Sibilações de roucura
Desprendidos da vontade?
Veneno em doces palavras
Ilusionismo, maldade?
Doce mel um bom disfarce
De olhares aglutinantes?
Fantasias escondidas
Numa nuvem flamejante?
Talvez haja algum quê
De candura e nobreza
que faça com que ele veja
algo mais que a beleza.
Não sendo generalista
Mas tendo que definir
O homem é um ser perfeito
Só falta ele descobrir
Exercitar é um bom começo para a perfeição.
Seja um idiota
(Arnaldo Jabor)
A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
hahahahahahahahaha!...
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva.
Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!
Um olá para o mês de Agosto
Agosto tem a má fama de ser o mês do desgosto, superstições à parte gosto dele. É um novo começo do mesmo ano. A segunda metade, a outra parte, a parte final. Para saudar esse mês eu encontrei no recanto das letras uma poesia de Marcelo Braga e trago aqui para enfeitar o blog:
PARA O MÊS DE AGOSTO (01/08/2011)
Desejo nesse mês que se inicia:
ARREBATAMENTOS
SUSPENSÕES ETÉREAS
FASCÍNIOS
AMENIDADES
DIVERTIMENTOS
ENCANTAMENTOS
MAGIAS
DESLUMBRES
IRRADIAÇÕES
INSPIRAÇÕES
DELEITES
ENTUSIASMOS
PRAZERES
E para não ser TEDIOSO:
Alguns problemas para se resolver.
PARA O MÊS DE AGOSTO (01/08/2011)
Desejo nesse mês que se inicia:
ARREBATAMENTOS
SUSPENSÕES ETÉREAS
FASCÍNIOS
AMENIDADES
DIVERTIMENTOS
ENCANTAMENTOS
MAGIAS
DESLUMBRES
IRRADIAÇÕES
INSPIRAÇÕES
DELEITES
ENTUSIASMOS
PRAZERES
E para não ser TEDIOSO:
Alguns problemas para se resolver.
Eu não quero ser uma mola ensacada individualmente
Imagem retirada do site www.palaciodeespumas.com.br
Estive lembrando a letra de uma música muito conhecida da banda Legião urbana que sei quê nem porquê me veio à mente, um trechinho em especial “digam o que disserem o mal do século é a solidão”e, se me permito me contradizer, acredito que ele me veio à mente por que é uma queixa ou reclamação comum das pessoas deste nosso século. Não lembro de nenhum dos meus amigos que nunca tenha proferido as seguintes sentenças; “Estou tão sozinh@”, “fujo muito da solidão”, “Não gosto de ficar só” ou ainda que “O que tenho mais medo nessa vida é da solidão”.
Por que toda essa geração da informação sente que está só? Temos o mundo das redes sociais, as pessoas podem saber mais rapidamente de notícias sobre a vida das outras. Compartilhamos fotos dos nossos melhores momentos com uma grande escala de “amigos”, atualizamos em questão de segundos todos os acontecimentos “importantes” que nos rondam, postamos nossos pensamentos ou tuites de qualquer lugar que estejamos e que pegue sinal de celular. Por que tanta solidão ainda? Podemos ver pessoas e falar com elas em tempo real de onde quer que estejam. Eu por exemplo, sempre falo com um primo meu que está em Danbury nos EUA e com uma prima do meu esposo que está na Bélgica. Tantas facilidades cibernéticas e ainda não estamos nos sentindo acompanhados.
Uma análise semântica das frases do primeiro parágrafo permite que possamos aproximar essas sentenças a um único ponto de convergência: o nosso modo de vida. Renato Russo não podia ter descrito melhor o sentimento de solidão “Cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição”. É o que vemos!
É de se estranhar que as pessoas se cruzem pelas ruas e não se falem, não troquem nem uma simples saudação que, além disso, é um sinônimo de cordialidade. Lembro-me que nas lições que eu aprendia com meus pais sempre alguém falava em ajudar aos outros mesmo que eles não peçam, que para sermos pessoas consideradas “boas” não era necessário esperar, era preciso ter sensibilidade para perceber o que acontece à nossa volta. Para começar uma amizade é necessário iniciativa, mas o nosso mundo de hoje, se por um lado é globalizado, por outro é excludente e extremamente individualista.
Comparo o nosso comportamento, grosso modo, com os novos colchões que o mercado especializado apresenta: “molas ensacadas individualmente”, o colchão que tem este tipo de mola vibra menos por que as molas não se “esbarram” umas nas outras, com isto a pessoa tem mais conforto ao deitar. Chamo atenção para a parte de não se esbarrarem. Nós somos as molas ensacadas individualmente por outro motivo; o medo. Além da solidão, a nossa conjuntura social sofre do medo. Medo de sair de casa, medo de ir ao supermercado a pé, medo de sair à noite, medo de passear aos domingos, medo de viver. O medo é o que nos “ensaca”, o medo é o que faz com que não nos falemos nas ruas, que faz com que fiquemos tanto tempo dentro de casa vivendo uma vida virtual. Esse medo também existe quando se fala no tempo. Parece que máximas como “tempo é dinheiro” têm destaque nessa nossa vida moderna e não podemos perder nenhum dos dois.
Se perder tempo quer dizer que perderemos horas de estudo ou podemos nos prejudicar em relação ao tão sonhado cargo ou concurso, temos medo também de perder esse tempo e então, mais uma vez voltamos para nossos sacos individuais. E então, de quem é a culpa de esse século ser o da solidão?
Minha não é, eu até gosto dela. Ao contrário de muitas pessoas eu me sinto bem só. É quando estou só que consigo pensar direito, escrevinhar crônicas como essa, tocar algumas músicas no violão, arrumar a casa. Brincar com os gatos.
Mas quando estou acompanhada eu me dôo inteira. Seja a amigos, conhecidos ou familiares. Acho que podemos administrar bem esses estados de companhia e de solidão. Os dois são bem necessários à nossa construção. Se não consigo ficar só alguma coisa anda errado e é preciso descobrir o que é.
Renato Russo também sabia lidar com isso “Hoje não estava nada bem mas a tempestade me distrai, gosto dos pingos de chuva, dos relâmpagos e dos trovões”. É possível tornar um momento solitário muito proveitoso, é possível descobrir muita coisa de nós mesmos ou ainda nos aproximar da natureza.
Mas antes, é preciso saber o que é solidão. A solidão é um estado de reencontro com nosso eu, podemos ser nós mesmos, e somos seres fora de regras sociais quando estamos sós, fora de obrigações e responsabilidades. Alguém de vocês que me lê já se imaginou sozinho no mundo? Sem ter dependentes, sem depender, sem ter de responder perguntas ou fazê-las? Sem ter de agradar ninguém ou seguir certa tendência? Isso é se encontrar na solidão.
Muita gente passa na vida sem ter esse despertar. Tem gente que não se imagina só. Não consegue viver sem fulano, sem cicrano. E assim vive uma eterna infelicidade por que coloca o sentido da vida no outro. Não vive sem o outro, vive para o outro, tem de agradar o outro.
Eu não! Eu não quero agradar ninguém. Vim a esse mundo para viver minhas vontades. Por isso passo muito tempo só. Não vou obrigar a ninguém a fazer o que quero, mas não deixo de fazê-lo por ninguém. Esse é o meu mundo, é meu e só meu. Quer viver bem? Invente seu mundo, crie seus bonecos e suas histórias e nada o entristecerá.
Voltando das divagações, muita gente me diz que só digo essas coisas por que não tenho filhos, por que não vivi ainda a maternidade. Eu acredito. Sinceramente eu acredito. Colocar um ser no mundo é uma coisa de muita responsabilidade. E pode ser que eu mude, não serei eu a contrariar a lei do tempo de que tudo muda. Mas ao menos eu soube viver um bom momento de solidão e pude me encontrar uma vez na vida. Talvez eu mude ou talvez eu não precise disso.
Afinal, eu escolho muitas das coisas que acontecem na minha vida. E se eu escolher ser assim pra sempre? E se eu não quiser mudar? Adoro meus estados de sonolência e de solidão. Mas mesmo solitária não evito de me “esbarrar” com outras pessoas, uma coisa é não se misturar, outra coisa é querer ficar por mais tempo consigo mesma.